Convite à comunidade tabuleirense

Não temos a pretensão e nem imagem tradicional de militante político, cultural, ambiental e esportista. No entanto, pensamos e quem pensa criticamente e busca informações honestas não consegue conviver com a negligência nestas áreas de interesse. Este blog é uma maneira particular de exercitarmos nossa cidadania e divulgarmos os nossos pensamentos nas áreas de política, cultura, meio ambiente e esporte. Além do mais, a razão deste blog é incrementar discussões sobre política, cultura, meio ambiente e esporte referentes ao município de Tabuleiro do Norte. Assim, convidamos a todos os amigos do nosso querido "torrão sempre amado", sem distinção política, religiosa, de cor, de gênero, de classe social, etc., para interagir e acompanhar as postagens. É pretensão nossa postar textos, poesias, imagens e notícias. Sugiro também a quem quiser colaborar com estes formatos de comunicação e expressão que estaremos recebendo-os e analisando-os, através do e-mail: cirandadeverbo@gmail.com. Esperamos que participem e apreciem da melhor maneira possível e sigam este novo caminho. Felicidades!!!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Texto: Pânico Coletivo

Não é sobre Tabuleiro, mas reflete a realidade política do nosso Estado...          

              No romance “Ensaio Sobre a Cegueira”, do escritor português José Saramago, a sociedade entra em caos após todos os habitantes, exceto uma pessoa, ficar cega. Acometidos pela cegueira, os habitantes passam a regredir para comportamentos humanos primitivos, despidos de conduta moral e preceitos sociais, apesar de sentimentos benéficos prevalecerem para algumas pessoas, principalmente para a única habitante que não ficou cega.

            A referência a esta obra, que propôs analisar as relações sociais em condições adversas, foi motivada por uma realidade que nunca pensei presenciá-la: o caos urbano em Fortaleza, após a greve da polícia militar do Estado do Ceará. Inicialmente, ficamos preocupados com a segurança no aterro da praia de Iracema, uma vez que a categoria dos policiais militares e do corpo de bombeiros já havia instalado a greve.  Sob a segurança da Força Nacional, o réveillon em Fortaleza foi aparentemente tranquilo. Particularmente, vi apenas uma movimentação estranha durante a virada de ano, algo instantâneo e efêmero, nada que causasse pânico. Até a ida para casa, caminhado entre as ruas de Fortaleza, não pareceu perigosa. Sentia que a greve não afetaria nossas vidas. Passada a comemoração de virada de ano, na qual me lembro claramente da vaia quase tradicional que a prefeita de Fortaleza sofreu, não ouvíamos nada de excepcional sobre a greve instalada. Até que os jornais policiais e até mesmo os veículos de comunicação mais imponentes noticiaram sucessivas ocorrências de arrastões nos bairros mais periféricos da cidade. Ninguém imaginava, porém, que isto seria o início de uma histeria coletiva que ecoava medo além das fronteiras do município de Fortaleza e chegaria a cidades do interior do Estado do Ceará. Desconfiando da mídia, digeri a notícia com certa naturalidade, até o momento que tive que sair de casa. Fiquei perplexo ao notar que às 14:30 h, em plena terça-feira, as lojas da Av. Monsenhor Tabosa estavam quase que totalmente fechadas, enquanto observava os rostos melindrados dos pedestres. Esperei o transporte coletivo mais do que o dobro do tempo normal, desistindo, dessa forma, de ir ao local programado. Voltei para casa sem saber qual sentimento me dominava. Além da sensação aguçada de insegurança, outras lembranças e argumentos se conflitavam em meu raciocínio breve. Primeiro, porque a categoria que defende a greve no momento foi coadjuvante da agressão aos professores da rede estadual de ensino, quando pelas mesmas razões, que se digam justas, instalaram a greve. Neste caso, podemos relevar que os policiais cumpriam ordens do governo, mas violência não se justifica. Depois, penso o quão pouco é o salário do policial, que convive diariamente com o perigo. Seguindo minha confusão mental, vêm à mente os relatos constantes de falta de preparo, abuso de autoridade e participação em crimes, de homens fardados, cuja missão seria nos proteger da criminalidade. No entanto, seria infeliz da minha parte extrapolar a conduta desviada de alguns para toda a categoria. A verdade é que as greves que inundam o desgastado governo do Estado, descrença local intensificada pela administração “Fortaleza Bela”, tem razões justas e fundamentais para a valoração das categorias reivindicadoras, embora as estratégias de conseguir visibilidade e apoio da população acabam por prejudicar a própria comunidade, a exemplo da greve dos policiais sob a qual a população se encontra desprotegida e vulnerável às ações de criminalidade. Isto nos leva a reflexão de como estamos susceptíveis ao caos, à desordem, à brutalidade humana. Um governo que deveria aplicar a arrecadação dos nossos impostos para a melhoria dos serviços públicos, se cerca da segurança da Força Nacional e nos deixa desprotegidos, vulneráveis ao acaso. Meu desejo é gritar: fora Cid Gomes!!!


(por: Paulo Lima)

4 comentários:

  1. Sinto-me muito contemplada pelo texto, porque foi exatamente o que pensei e senti ao andar em Fortaleza no feriado de Reveillon e ao saber dos arrastões. A tropa de choque é o braço repressor do Estado para qualquer manifestação que fale liberdade ou direitos, desde greve a movimentos sociais: são a força tática do estado para oprimir o povo, e Cid sabe fazer bom uso disso, embora em seus discursos mil vezes tenha falado da importância dese valorizar o professor e o policial...e mesmo assim, mesmo também precisando de salários mais altos, não titubeiam ao reprimir com louvor qualquer outra categoria, inclusive de policiais se preciso for e não do interesse dele. Acho que mais que chegada a hora dos homens que compõem nossa segurança nacional refletirem quem eles protegem realmente.

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  2. Só para complementar, o que acho que falta a muitos trabalhadores, a muitas classes de trabalhadores é se identificar uns com os outros, entender a greve e a reivindicação do outro e apoiar, em vez de criminalizar e de criticar. Claro, isso apssa por um processo de conscientização que de maneira nenhuma a mídia e os demais que estão no poder querem que o povo adquira. Mas acho importante sempre frisar isso nesses espaços. As greves dos bancários, dos correios, dos professores, da PM, dos motoristas e cobradores...são todas por uma mesma razão: condições melhores de vida, são todas justas, daí a necessidade de combatermos as diferenças que querem que os trabalhadores continuem a agir de forma fragmentada. O que seria, em Fortaleza, uma greve de policiais, motoristas e professores? o que seria se as categorias se apoiassem abertamente, em sua maioria? Um sonho possível de mudança social.

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  3. Achei fantástico ter inciado o post falando sobre o livro "Ensaio sobre a cegueira" que retrata exatamente aquele "e se..." que poderia provocar caos sociais em pouquíssimo tempo. Nos lembrando sempre da ordem de que precisamos. Não tenho qualquer gabarito para falar sobre política do estado do Ceará porque, realmente, quase não conheço a respeito. Me atrai bastante, no entanto, essas discussões acerca desses temas que sempre nos trazem novas reflexões a respeito de quem somos, o que queremos, e o que fazemos (ou não) pra chegar onde queremos. Recomendo também a leitura de uma outra obra, também do Saramago, intitulada "As intermitências da morte" que trata de um outro "e se...". Em um país, de repente, as pessoas, simplesmente, param de morrer. E o Saramago trata dessa questão de um forma muito interessante.

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  4. Muito bom seu texto, contempla meu sentimentos quanto ao descumprimento das leis,pois as lei neste país esta a favor de quem possui uma arma.

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