A evolução social, concernente às transformações na melhoria da qualidade de vida das comunidades, está diretamente relacionada ao aperfeiçoamento da habilidade do homem de modificar o espaço local e aos procedimentos para processar e utilizar os recursos disponíveis. Contudo, essa evolução é questionada, pois apenas parte da população tem acesso facilitado aos produtos e serviços proporcionados pelos avanços científicos, tecnológicos, industriais e pelo modelo econômico neoliberal. Discute-se, todavia, que a modernização social encontra um contraponto no modelo atual de desenvolvimento, no qual a utilização indiscriminada dos recursos naturais e a geração cada vez maior e diversificada de resíduos comprometem o equilíbrio ambiental do planeta, a saúde pública e o bem-estar social.
Entretanto, as cidades continuam enveredando pelo mesmo modelo de crescimento econômico adotado pelos países ditos desenvolvidos e em processo de desenvolvimento, no qual o critério de negociação do “toma lá, da cá” acaba prevalecendo. E essa não é uma verdade apenas das grandes cidades. Em um modelo globalizado de relações internacionais, tanto os pequenos como os grandes agregados urbanos funcionam por meio de um sistema ramificado de modelos econômicos padronizados. Estes modelos são, muitas vezes, elaborados a partir de cópias e adaptações de políticas, objetivos, estratégias e processos de países com realidades distintas e até opostas, e, por isso, estão sujeitos a falharem, quando aplicados a nossa realidade. Por outro lado, modelos mais dinâmicos e sustentáveis, como o eco-desenvolvimento, são discutidos pela eficiência do marketing político, mas não implementados com a real importância e urgência.
Dificilmente, seja em pequenas cidades ou grandes metrópoles, encontramos iniciativas corajosas, que compartilham benefícios coletivos, como os resultados de projetos de desenvolvimento sustentável, cuja formatação respeita os critérios de planejamento, a justiça social dos trabalhadores e residentes, a proteção ambiental e o equilíbrio ecológico, sem que, por outro lado, causem prejuízo ao potencial econômico do empreendimento ou atividade proposta. Porém, o que habitualmente vemos é o estabelecimento do contraditório: indústrias para o desenvolvimento local, mesmo que a poluição comprometa a qualidade de vida da população. O bem-estar social, o ar puro e a qualidade de vida das pequenas cidades brasileiras cedem espaço à industrialização tradicional, preocupada em lucro e status. Além do mais, algumas medidas mitigadoras adotadas pelas empresas ou atividades potencialmente poluidoras são conseqüências de exigências da Política Nacional de Meio Ambiente, através dos órgãos de controle ambiental e não, em sua grande maioria, como resultado ou manifestação da consciência e/ou sensibilidade ambiental dos empreendedores.
As atividades humanas, sejam elas industriais, comerciais ou serviços, têm sua importância nas transformações do espaço e nas relações sociais das comunidades. Por outro lado, o crescimento econômico poderá alcançar estabilidade com um modelo mais sustentável, longe da especulação de que isto seja idealismo.
Os impactos ambientais internacionais, como somatório das degradações locais, refletem atualmente no conceito de mudanças climáticas globais, previstas pelos ambientalistas, em décadas anteriores, e rejeitado pelos desenvolvimentistas como sendo uma previsão radical. Hoje, sabemos da gravidade planetária das conseqüências do desenvolvimento predatório e, conhecedores desta verdade, ainda aceitamos passivamente os mesmos caminhos, justificativas e discursos desenvolvimentistas. Ao contrário disto, devemos buscar o equilíbrio entre as atividades humanas, a qualidade ambiental e a saúde pública no âmbito das comunidades locais.
Para termos uma noção da realidade que nos cerca, basta a nós analisarmos as atividades, empreendimentos e serviços realizados no nosso município, no nosso bairro ou na nossa região, do ponto de vista da sustentabilidade. Com muita verdade, veremos que o discurso ambiental de desenvolvimento sustentável, se existir, estará encorajada pela máscara verde, que oculta os reais motivos de seu discurso: exigências burocráticas de agentes financiadores ou de entidades parceiras, fiscalizadoras ou gestão pública (ou obtenção de selos verdes e certificações ambientais). Isto não significa que, no atual nível de discussões ambientais, não possamos encontrar ações práticas de conservação por meio daqueles que utilizam os recursos naturais para produção de bens de consumo e prestação de serviços.
O mundo está mudando! A sensibilização é "imposta" pelos distintos meios de comunicação! A conscientização, por sua vez, é mais lenta e resistente e é esta velocidade de apreensão e compreensão dos desafios ambientais que preocupa a quem desconfia das consequências dos impactos ambientais para o futuro de nossas vidas.
(por: Paulo Lima)