Convite à comunidade tabuleirense

Não temos a pretensão e nem imagem tradicional de militante político, cultural, ambiental e esportista. No entanto, pensamos e quem pensa criticamente e busca informações honestas não consegue conviver com a negligência nestas áreas de interesse. Este blog é uma maneira particular de exercitarmos nossa cidadania e divulgarmos os nossos pensamentos nas áreas de política, cultura, meio ambiente e esporte. Além do mais, a razão deste blog é incrementar discussões sobre política, cultura, meio ambiente e esporte referentes ao município de Tabuleiro do Norte. Assim, convidamos a todos os amigos do nosso querido "torrão sempre amado", sem distinção política, religiosa, de cor, de gênero, de classe social, etc., para interagir e acompanhar as postagens. É pretensão nossa postar textos, poesias, imagens e notícias. Sugiro também a quem quiser colaborar com estes formatos de comunicação e expressão que estaremos recebendo-os e analisando-os, através do e-mail: cirandadeverbo@gmail.com. Esperamos que participem e apreciem da melhor maneira possível e sigam este novo caminho. Felicidades!!!

domingo, 18 de março de 2012

Texto: Até quando ficar debaixo d'água?

A chuva é um fenômeno mágico para quem precisa esperar a maior parte do ano para vê-la desfiar no céu e resfriar o ambiente, senti-la molhar o chão e, aqui no bioma Caatinga, mudar a cor da natureza, cobrir o solo e as árvores de tonalidades verdes. Poderíamos, facilmente, construir este texto apenas com o sentimento de valor que, nós sertanejos, sabemos deliciar por sina. Por outro lado, as chuvas podem nos trazer desconfortos, muitos dos quais não refletem apenas a força da natureza, mas também a falta de conhecimento, compreensão, planejamento e gestão de alguns processos naturais decorrentes das chuvas e que podem ser manejados pelo homem. Não temos o controle das chuvas, não temos como evitar precipitações torrenciais, nem temos ainda um sistema ideal de previsões de chuvas, que nos forneça previsões para um período maior de tempo. Apesar dessa fragilidade e impotencialidade que temos diante dos eventos naturais, podemos utilizar de conhecimentos práticos e teóricos para reduzir a vulnerabilidade da paisagem e o risco potencial de eventos extremos de chuvas sobre as comunidades. Muitos desastres ou fenômenos naturais que causam inconveniência para os habitantes de um determinado local poderiam ser evitados por meio de medidas mitigadoras e gestão adequada dos sistemas hídricos. Não é segredo para ninguém que a água que cai da chuva tem que escoar para algum lugar. É a partir desse movimento da água sobre o solo (e também abaixo da superfície do solo) que são formados os córregos, riachos e rios, cuja direção vai da parte mais alta para locais mais baixos da bacia hidrográfica (definida como a porção de terra limitada por obstáculos naturais, como serra e morro, e composta por uma rede de drenagem das águas da chuva).                    
Neste sentido, quando aterramos córregos, riachos, rios ou até mesmo pequenos canais de água podemos comprometer serviços da natureza, como a drenagem das águas de chuva. É o que acontece em áreas urbanas, nas quais o crescimento populacional foi desordenado e irresponsável. Para qualquer processo de ocupação e uso do solo, devemos nos valer de critérios norteadores que conduzem a resultados mais satisfatórios. O Zoneamento Ecológico e Econômico, o Plano Diretor de Uso e Ocupação do Solo e o Código de Obras e Postura são, entre outros, instrumentos legais imprescindíveis para o bom planejamento e gestão do uso e ocupação do solo no município. A partir deles, podemos identificar áreas adequadas para o estabelecimento de indústrias, de residências e de comércio e áreas prioritárias para preservação ambiental. Esta separação do ambiente urbano, em função das características de uso e ocupação do solo, visa estabelecer uma estrutura urbana equilibrada e permitir o pleno desenvolvimento dos serviços ambientais. Entre estes serviços, podemos citar a drenagem das águas de chuvas, necessária para o livre escoamento da água e imprescindível para a sadia qualidade de vida da população e manutenção dos ecossistemas aquáticos. Diante dos instrumentos legais citados, podemos identificar e mapear a rede de drenagem do município e elaborar um plano de gestão da drenagem da água. Este plano deverá resgatar, incorporar e respeitar os mecanismos naturais de drenagem, prejudicados pela interferência humana.
Neste sentido, acredito que parte da população tabuleirense tem conhecimento básico a respeito das chuvas, da drenagem da água e das conseqüências dos alagamentos e inundações. No entanto, estamos sujeitos ao acaso das forças da natureza e da falta de gestão da drenagem das águas das chuvas. Temos o riacho Quixeré (sistema hídrico que atravessa o município e, principalmente, a área urbana da cidade), que vem sofrendo com o desmatamento da vegetação de suas margens, aterramento do seu leito e degradação da qualidade da água com lançamento de óleo, esgoto e lixo. A reintegração do riacho resolveria boa parte dos problemas de drenagem da área urbana do município, mas, até o momento, o projeto de revitalização do Riacho Quixeré não foi implantado. Na verdade, a maior parte da vazão deste riacho é desviada para o córrego da Asa Branca, que não tem a capacidade de receber volumes elevados de água e acaba por comprometer, quase que anualmente, as regiões da cidade com topografia mais baixa. Somados a este problema, observamos outros interferentes da drenagem urbana de Tabuleiro do Norte: (01) o aterramento indevido de alguns bueiros da cidade (construção de imóveis); (02) o aterramento de pequenas lagoas, em terrenos de várzea, que serviam como área de amortecimento de águas das chuvas (construção de residências e indústrias); e o uso do córrego da Asa Branca com plantio de forragem para criação de ovinos e caprinos. Estas observações, reflexo da má administração dos sistemas hídricos e da falta de drenagem urbana, contribuem para as constantes inundações e alagamentos de imóveis no município de Tabuleiro do Norte.
Atualmente, o riacho Quixeré se encontra segmentado, sem haver fluxo de água entre alguns trechos. Toda a água que chega ao açude Tabuleiro, cuja barragem é também usada como a via de acesso ao Hospital do município, fica retida nele até seu completo enchimento. A água que excede o volume máximo do açude Tabuleiro deveria seguir o fluxo normal do riacho, pois o córrego da Asa Branca deveria ser apenas um caminho alternativo de para as águas resultantes de chuvas intensas. No entanto, a sangria do açude é desviada para o córrego da Asa Branca, o qual, como disse antes, não tem a capacidade de receber volumes elevados de água. Outro problema é evidenciado quando há o rompimento das barragens de alguns açudes do município, que contribuem para o aumento repentinamente do volume de água da Lagoa do Saco do Barro, que, por sua vez, sangra para dentro do riacho Quixeré, provocando inundações na área urbana adjacente. Estes são uns dos problemas evidentes de drenagem urbana do município.      
No entanto, apesar dos inconvenientes recorrentes de inundações e alagamentos, sofridos pelas inúmeras famílias tabuleirenses, o problema de drenagem urbana continua, sem que haja certeza de mudanças rápidas e efetivas na gestão hídrica do município.


(por: Paulo Lima)

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